segunda-feira, 8 de abril de 2019

Cazuza no museu



Cazuza no Museu

No início da manhã, abaixo da pirâmide de vidro, uma fila começava a se formar rapidamente. Era visível a excitação das pessoas que aguardavam o horário de abertura.
Não se tratava da presença de nenhuma celebridade, nem um evento de tecnologia, muito pelo contrário. Tratava-se da visita ao maior museu do mundo. Dedicar um dia inteiro para visitar o Louvre, deixando a lindíssima capital francesa do lado de fora, deveria ter um importante significado que eu me propus a descobrir.
A história da arte e, consequentemente, da própria humanidade estava ali, peça por peça, galeria por galeria. Poses e paisagens, com seus contextos de moral, costumes e religião. Instantâneos capturados por almas talentosas capazes de manipular luz e sombra ou de moldar tecidos transparentes em blocos de mármore.
De repente, minha brasilidade aflorou na música de Cazuza: “o tempo não para, não para não, não para...”.
Olhei pela janela. Lá fora o movimento mostrava que o tempo e a pressa estão intimamente ligados e ambos não cessam. Lá dentro, no entanto, o tempo não era importante em face da contemplação das mais lindas e interessantes obras já produzidas.
Cenas bucólicas, pintadas numa tarde de luz outonal, me alvejavam o coração. Será que todos sentiam a mesma coisa que eu? Um misto de arrebatamento e gratidão?
Fiquei pensando nas crianças e seus brinquedos eletrônicos. Será que para essa nova geração a visita ao museu seria algo interessante?
Comecei a reparar nas famílias com filhos pequenos. Vi um menininho puxando a roupa de sua mãe para chamar a atenção. Curiosa, me aproximei. Eram brasileiros. O menininho dizia numa evidente expectativa:
- Mãe, cadê a Mona Lisa?
Senti muita alegria por ter presenciado essa cena. Só a arte tem o poder de aproximar pessoas que viveram em tão diferentes épocas e realidades, ignorando as diferenças intergeracionais.
Anoiteceu. O museu já anunciava o encerramento das atividades. Um dia memorável chegava ao final. Ainda estava com a mesma trilha sonora tilintando no pensamento. É claro que o tempo não para, mas quando a sensibilidade e o sentimento estão no comando, cada minuto pode render uma eternidade.

Crônica publicana no Jornal Página 3 em 8 de abril 2019

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